quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Desestabilizando Certezas

Os educadores, quando pensam nos objetivos do seu ensino, da sua prática docente, direcionam-na para uma coisa prática. Uma Universidade, por exemplo, educa para determinadas profissões: Forma-se o Engenheiro, o Médico, o Dentista, o Advogado, o Professor, entre outros. Porém, mais importante do que acreditar que se está formando profissionais, é pensar que esse profissional antes de qualquer coisa é um ser humano que foi se construindo a partir das emoções que a sua história criou. O objetivo, entretanto, não é formar um profissional, mas um bom profissional, humano, ético, consciente, inovador seja qual for a sua área de atuação.

O educador não tem verdadeiramente consciência do poder que tem. Minimiza este poder para o universo de sua aula, através dos instrumentos que utiliza para a verificação da aprendizagem. No entanto, a força de que dispõe de transformação de modelos, conceitos e paradigmas é infinito. E claro, desestabilizador de certezas.

Quando um educador se propõe a analisar o seu papel, percebe o quão pode ser livre na sua atuação, e na formação da consciência crítica de seus alunos. Se ao contrário, não se torna co-responsável disso, torna-se manipulador, controlador até mesmo chantageador de um processo que pensa poder "controlar".

O conhecimento, algo nada pronto e portanto em constante transformação, não pode ser tratado como algo definitivo, certo, imutável. Sendo assim, a certeza não pode existir no processo ensino-aprendizagem. É na incerteza da busca que produzimos novas idéias, explorando o desconhecido sem o medo de falhar e tentar outra vez. Nada adianta construirmos novos ambientes de aprendizagem, novas técnicas de ensino, novos recursos didático-pedagógicos, se no nosso inconsciente a maneira de encarar a educação e o papel docente, não mudar. A primeira mudança deve partir do querer agir diferentemente, com mais emoção, com mais pensar.

Não estamos nos atendo a educação apenas amorosa, protecionista e ingênua, mas a educação que acredita no ser humano como agente da própria história, construtor de novos caminhos. Como diz um professor de filosofia, "como sermos pensantes que somos e não passantes (...)" é que podemos gerenciar nosso trabalho para a formação participativa.

Se o educador conseguir sair detrás de seu giz, de sua transparência, do seu recurso multimídia e mostrar o ser humano que é, com uma história recheada de sonhos e frustrações, estaremos sim desestabilizando as certezas do conhecimento, educando para a paz, para a felicidade, para uma melhor qualidade de vida.

Gerar jovens "lógicos", capazes de lidar com números e máquinas é fácil. Difícil é ensinar a lidar com a vida. As máquinas mudam, o conhecimento se aprimora, a tecnologia inova a cada dia. O que se acredita hoje pode não ser o mesmo de amanhã. Ao invés de "dominar" a máquina, que tal dominar a própria vida?

--------------------------------------------------------------------
Desestabilizando certezas
Escrito por Jacqueline Oliveira Lima - Qua, 10 de Novembro de 2004 21:00
http://www.gestaouniversitaria.com.br/edicoes/36-38/173-desestabilizando-certezas.html