domingo, 17 de outubro de 2010

Porque voto na Dilma-Temer.


Nasci em 1975, pai motorista, mãe do lar, num pequeno bairro no subúrbio de minha cidade. Enquanto pude, estudei numa escola pública no mesmo bairro com grande incentivo dos meus pais que nunca deixaram faltar material escolar e livros didáticos. Lembro-me que era uma das poucas alunas sem distorção idade/série e que usava o uniforme. Aliás, posso contar nos dedos de uma só mão aqueles colegas que conseguiram chegar ao ensino superior.

Já na 8ª série, com 13 anos, precisei estudar à noite, pois minha mãe conseguiu o meu primeiro emprego de meio período como pacoteira em um grande supermercado. Estávamos em 1988.

Em 1990 meu pai foi transferido e tivemos que ir todos para Beagá. Escola pública por lá já não era tão fácil e fiz provas para ingresso em diversos locais. Consegui entrar no Instituto de Educação de Minas Gerais para o curso Normal, muito a contragosto, pois meu sonho era ser contadora para passar no concurso da Caixa e ser feliz. Voltamos para minha cidade e trabalhando em lojas como balconista, terminei tanto o Normal, como o Técnico de Contabilidade. Ambos em escolas públicas mantidas pela prefeitura. Excelentes por sinal.

Esperei por um concurso público por muito tempo. Ele não veio. Veio um concurso de professor para a séries iniciais na prefeitura. O concurso para a caixa ficou na saudade. Assumi meu compromisso com a educação no mesmo ano que o Brasil criou o Plano Real. Meu primeiro salário veio em URVs (Muitos nem sabem o que é isso).

Em 1995 a Prefeitura abraçou um projeto em parceria com a UFU e então ofereceu três cursos superiores de formação de professores. Comecei a fazer Pedagogia. Nem bem terminávamos o primeiro ano, onde nos debruçávamos a entender as propostas de lei de diretrizes e bases para a educação nacional, substitutivo Cid Saboya e Darcy Ribeiro, quando a prefeitura nos informa que custear o ensino superior estava além de suas capacidades e assim, decidiram dividir os custos com os alunos. O projeto Darcy Ribeiro havia sido promulgado de acordo com o Plano de Reforma e Administração do Estado, onde os direitos sociais passaram a ser serviços minimamente prestados pelo Estado. Este Estado agora tinha um novo papel perante a sociedade, bem definido na oferta da coisa pública.

As escolas técnicas mantidas pela prefeitura foram fechadas. Agora só poderiam atuar na Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental. Aos estados, a obrigação do Ensino Fundamental e Ensino Médio, completando o ciclo da Educação Básica generalista.

Foi neste período que a arena política me despertou o interesse e ao lado de Lauro Guimarães, Adelmo Leão(ambos do PT) e mesmo Anderson Adauto (PMDB, pasmem!), garantimos que os alunos não sofressem o custo do processo da FEU. Todos os alunos, da primeira e segunda turma da FEU, concluíram seus estudos sem pagamento de nenhuma taxa, mesmo com toda a pressão da máquina administrativa suspendendo salários de professores, debates intermináveis e claro, muito desgaste de todos os envolvidos. A UFU retirou-se da parceria. Novas parcerias foram feitas de modo a dividir os custos com os alunos.

Foi entre 1994 e 2003 que vi todo o tipo de programa a fim de “melhorar” a educação e universalizar o acesso. Tivemos a Escola Cidadã na prefeitura com os ciclos de formação, que pregavam a flexibilização dos tempos e espaços de modo que suspendia a reprovação principalmente no 1º ano considerado um gargalo de custos. Os alunos agora tinham mais tempo para aprender a ler e a cartilha foi praticamente extinta das escolas em nome de um novo modo de aprender e ensinar: o construtivismo.

Pensaram em tudo, menos na valorização do magistério que teve nestes anos o maior achatamento salarial de todos os tempos em todos os níveis e modalidades.As condições de trabalho também não foi das melhores, obrigando a classe à inúmeras "reciclagens" de modo a engulir o novo processo.

No âmbito do estado tivemos a Escola Sagarana, depois o projeto Escolas Referências, Escola Viva, Comunidade Ativa. Em 2001 comecei a atuar como Supervisora Pedagógica no Estado. Acompanhei de perto o “choque de gestão”. As escolas como protagonistas no processo de gestão, gerenciamento de recursos.

Não quero aqui alimentar críticas em relação aos planos, ou propostas pedagógicas, mas identificar o papel do Estado no uso da coisa pública. Os alunos, saindo do 3º ano do Ensino Médio sem saber o que fazer, pois continuar com os estudos não era possível, e não tinham nenhuma formação profissional.
Enquanto isso o Sistema S crescia, bem como a rede privada de educação superior, custeados claro pelos incentivos estatais.
Tentei continuar os estudos e com muita dificuldade paguei uma especialização. Quanto ao mestrado só em cidades vizinhas, e como trabalhava, fui muitas vezes excluída dos processos seletivos.

Só em 2005 tivemos na cidade a transformação da Faculdade de Medicina em Universidade. De lá para cá, dos 3 cursos, hoje são 24 nas mais diferentes áreas, inclusive formação de professores. Foi nesta transformação que surgiu a oportunidade de me tornar servidora pública federal. Hoje sou Pedagoga na Universidade local. Continuo estudando, agora, Administração Pública pela UFOP e quem sabe enfim entrarei num programa de mestrado.

É só por isso, ou por tudo isso, que meu voto é para o governo que priorize a questão social. Longe de ser perfeito na garantia dos direitos sociais, propõe dentro do que permite os arranjos das agências transnacionais, um projeto onde a educação a ser garantida não é apenas a básica que não forma para coisa alguma, mas a oferta de educação em todos os níveis e modalidades, sobretudo técnico, tecnológico e superior. Por isso não acredito quando acusam o governo atual de apenas “dar o peixe” e manter o clientelismo estatal.
Meu voto é na Dilma, porque a fome, a inflação, o desemprego, não está em pauta nas manchetes do jornal. Porque todos aqueles que li, também apóiam esta proposta, como Frei Betto, Marilena Chauí, Leonardo Boff, entre tantos outros.

Faço uma analogia muito simples com as mudanças que tivemos nos últimos anos: não consigo encontrar trabalhadoras para o serviço doméstico com a mesma facilidade. Arrumar alguém para fazer a unha, é como encontrar ouro. A sopa que fazemos no centro, destinada a moradores de rua, está voltando pela metade. Mas eu não fico triste com isso. Alegro meu coração!

Precisamos melhorar muito mais. Principalmente na gestão da coisa pública, onde muitos a usam como se privada fosse. A crise da ética nos assombra. Não podemos confiar nos princípios da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Mas estamos caminhando para isso. E nesta busca, estou com Dilma e Temer, para a manutenção do Estado de Direitos.